domingo, dezembro 07, 2025

A Sopa

Não tenho escrito ficção nos últimos tempos. Ou quase não tenho. Aqui e ali, pode ser que aconteça, mas não é o usual por esses dias. O plano de escrever um (longo) livro de ficção, por exemplo, está, a meu ver, distante, ou à distância de uma preparação, um estudo, um pouco maiores. Vou chegar lá.

 

Tenho escrito sobre o mundo, mas – acima de tudo – sobre mim. E isso não é uma volta a textos egocêntricos e megalomaníacos meus, como em um passado já distante, mesmo que fossem em grande parte ficcionais. Atualmente, tem sido diferente.

 

Acho que escrevo para preservar a (minha) memória.

 

Tive, algumas vezes, a sensação, ou impressão, de que havia fatos, ou memórias, de outros tempos que começavam a se perder, a desaparecer para sempre, que estavam lentamente se dissipando e que nunca mais teria acesso a elas, as perderia permanentemente. Isso me assustou, porque somos nossas memórias, somos o resultado do que vivemos.

 

Então, escrever sobre mim, sobre essas memórias que ainda resistem, seria uma forma de preservá-las, mantê-las. Me preservar, continuar me entendendo. Deixar um registro (para mim, que seja) do que vivi, do que senti, e com quem vivi as histórias. Tudo isso enquanto crio (vivo) histórias que serão contadas e escritas, para não serem esquecidas.

 

Serve também para fotografias. 

 

Fotografias contam histórias, mesmo que desfocadas, mesmo que estejamos ‘esquisitos’. Mesmo, e ainda mais, se foram tiradas sem preparo, ‘de susto’.

 

Histórias e estórias.


Até. 

sábado, dezembro 06, 2025

Sábado (e é dia de...)

Komka
 

Churrasco, polenta frita e salada de rúcula com cebola e bacon.

Bom final de semana a todos.


Até.

sexta-feira, dezembro 05, 2025

Respeito (Quase) Todo Mundo

Julgamos os outros o tempo todo.

 

Por mais que digamos o contrário, estamos constantemente julgando as pessoas com as quais interagimos em todas as situações. Não há como evitar. 

 

A impressão que nos causam, o tipo do relação ou interação que temos, nossas ações e reações perante elas, tudo isso é dependente, ou está relacionado ao julgamento que fazemos em tempo real, antes, durante e depois dessas potenciais interações. Para o bem e para o mal, eu digo.

 

O que devemos fazer é saber como lidar, como proceder a partir desse julgamento que fazemos, assim como o que é relevante ou não para nós. Quais os parâmetros que usamos nas diferentes situações e que peso damos a esses parâmetros. Quais são os mais importantes, os que podem mudar tudo? Que podem mudar a forma como a pessoa em questão é vista, e que podem fazer com que queiramos estar mais próximos ou não daquela pessoa.

 

Julgamos, então, para saber quem deve estar em nossa bolha? Mais ou menos. Em alguns casos, sim. 

 

Mas existem outros casos, entretanto, em que mesmo com diferenças grandes, mantemos a proximidade apesar de determinadas características, gostos ou posições políticas, que podemos achar – vamos dizer – estranhas, ou equivocadas. Relevamos em prol de um bem maior.

 

Respeitamos (quase) todos, desde que nos respeitem em nossos gostos e opções.

 

Ia falar dos veganos, e todos aqueles contra os churrascos.

 

Não vou.

 

É sexta-feira e é dezembro.


Até. 

quinta-feira, dezembro 04, 2025

Quatro de Dezembro

 A proximidade do final do ano, aquele simbólico momento de zerar o cronômetro e começar tudo de novo, se aproxima a passos largos entre promessas de encontros, confraternizações e outros eventos sociais. Agenda cheia, pouco tempo.

 

Inevitavelmente, chegamos à fase de avaliações, rescaldo, balanço de quem fomos e daquilo que fizemos no ano que se aproxima do fim. Se os planos – alguns deles, ao menos – forma executados como pensados.

 

O que realizamos, o que mudou.

 

O tempo passa rápido quando olhado em retrospectiva. Ontem era Páscoa e amanhã tenho cinquenta e muitos anos. A passagem do tempo deve (ou deveria) nos fazer aceitar mais serenamente o resultado de nossas escolhas e ações. Aceitar a colheita, por resultado do que plantamos. Algumas vezes, contudo, entender que a colheita pode demorar mais do que gostaríamos, que precisamos de maior cuidado e maior dedicação até o resultado vir.

 

E mesmo sem o final do ciclo, preparar o próximo, aquele que virá a seguir. Preparar o terreno, arar a terra.

 

Até.

quarta-feira, dezembro 03, 2025

Não É Inteligente

Eu comecei a escrever, como forma de pensar a vida, há muitos anos, inicialmente escrevendo à mão em cadernos que – alguns deles – ainda guardo como recordação. A fase seguinte foi registrar meus pensamentos datilografando em uma máquina de escrever, que era onde alguns trabalhos de escola de depois faculdade eram feitos, ainda antes dos computadores com editores de texto.

 

Sou, dessa forma, de uma geração que nasceu analógica e evoluiu para o digital. Das apresentações em Powerpoint das quais saíam slides que eram projetados por projetores que tinham carrosséis em que inseríamos os slides físicos, e cuja lâmpada queimava com certa frequência, até as atuais que deixamos na nuvem, ou nos enviamos por e-mail. Passei (passamos) por tudo isso.

 

O mesmo com as fotografias, antes reveladas a partir de filmes de 24 ou 36 poses, que carregávamos em viagem e revelá-las depois era como viajar de novo, até os celulares cujas fotos são tiradas ad nauseum, de comidas até infinitas selfies em frente ao espelho. Tudo bem, tudo certo. Redes sociais, desde o finado Orkut até o Instagram, passei por todas.

 

O meu limite, estabeleci há algum tempo, foi o Tik Tok.

 

Foi quando vi que envelheci. Não é para mim.

 

Agora, as IAs, os chatbots.

 

São potencialmente fantásticos, se usados adequadamente, como tudo na vida. Funções de auxílio em projetos, coisa e tal. Muito legal. Nunca, contudo, como conselheiro sentimental, ou outro tipo de utilidade que não prática, que exima o usuário do contato e das relações humanas.

 

Esse limite é bem mais simples de estabelecer.

 

Para mim, para mim.


Até. 

terça-feira, dezembro 02, 2025

Dois

De dezembro.

 

Estamos quase lá, ainda faltam vinte dias para iniciar o (meu) recesso de final de ano, e parece mais longe do que nunca. As urgências de dezembro, aquele mix de rotina de trabalho, confraternizações, amigos secretos, planos de férias de verão e necessidade de descanso fazem a rotação da vida estar mais alta do que o normal, quando o prudente (desejável) já seria um desacelerar.

 

Não me queixo.

 

Há um astral diferente (em mim, em mim), uma certa descompressão mental e dias mais leves, como se agora fosse apenas questão de levar o carro até o final, ‘na ponta dos dedos’, indicando que conseguimos, sobrevivemos. Um alternar entre viver o presente, recordar o passado e antecipar o futuro, imediato e de longo prazo. Como ocorre com certa frequência, gostaria (acho que preciso) de um tempo para ficar em casa apenas para organizar minhas coisas. Desapegar, eliminar o que está em excesso e o que não serve mais. Quase nunca consigo, ou apenas faço em pequenas partes.

 

Encontrar pessoas, ser leve.

 

Quase lá, quase lá.


Até. 

segunda-feira, dezembro 01, 2025

Terra de Gigantes

Em 1987, aos quinze anos, eu estava no segundo ano do hoje chamado Ensino Médio, no curso técnico de ‘Operador de Computador’ (que depois se chamaria Processamento de Dados) da Escola Técnica de Comércio da UFRGS, Campus Centro, logo atrás da Faculdade de Economia. Diariamente saía de ônibus da Zona Sul para ter aula no hoje chamado Centro Histórico.

 

Era dos mais novos da turma, como sempre calhou de ser por ter entrado na primeira série do primário logo antes de completar seis anos de idade. Havia iniciado o segundo grau com treze, quase quatorze anos. Recém adolescente, começando a crescer, podemos dizer.

 

Tudo o que eu queria ter – à época – era uma guitarra elétrica, e tinha uns amigos que tocariam comigo. E eu já sabia que, por mais que a gente crescesse, sempre haveria alguma coisa que a gente não conseguiria entender. Mas seguia (seguimos) em frente.

 

Isso há quase quarenta anos.

 

Ontem, enquanto levava a Marina para fazer o segundo dia de provas do vestibular da UFRGS, que está fazendo como teste para o ano que vem, já que terminou o segundo ano do Ensino Médio, ouvíamos música no carro. Quando estávamos quase chegando no Campus do Vale, onde ela faria a prova, colocou para ouvirmos justamente ‘Terra de Gigantes’, dos Engenheiros do Hawaii, e disse que gostaria que tocasse na cerimônia de formatura da escola, no ano que vem, justamente por seu significado.

 

Sorri. Por várias razões.

 

Porque deu tudo certo. Porque ela está traçando o caminho dela passo a passo, por estarmos, a Jacque e eu, aqui para apoiá-la incondicionalmente, porque tenho ensinado a ela o que acho importante, inclusive em termos de música. 

 

Porque a vida é bela.


Até.